domingo, 18 de novembro de 2012


CRIANÇAS ÍNDIGO
por Gilberto Celeti



“Quando as pessoas não acreditam em Deus, não é que elas não acreditam em nada,
elas acreditam em qualquer coisa.”
G. K. Chesterton



            No final do século XX o tema “crianças índigo” veio à tona. Um livro publicado nos Estados Unidos em maio de 1999, com o título The Indigo Children, escrito por Lee Carroll e Jan Tober, fez com que este assunto se tornasse bem mais conhecido. As doutrinas do Espiritismo é que dão sustentação a todo o argumento desses autores. Segundo eles, crianças índigo são crianças consideradas especiais, reencarnações de espíritos iluminados que chegam ao mundo com dons extraordinários; são super-sensíveis, intuitivas e visionárias, as quais resolveram encarnar agora, com uma missão ou um objetivo específico: mudar completamente o atual sistema de coisas. Há, na opinião dos autores e de outros esotéricos, uma grande quantidade de crianças índigo, que estão nascendo em toda parte desde o final do século passado, chamadas também de crianças fantásticas, crianças das estrelas, mestres, ou a esperança para o futuro da humanidade.
            Índigo é o nome de uma cor, entre azul e violeta. É também o nome da substância corante que serve para tingir de azul, ou anil. E ainda o nome da planta que fornece índigo, ou anileira. O nome índigo foi adotado para designar essas crianças especiais, tomando como base a doutrina da Aura, presente em várias religiões e tradições esotéricas. Índigo seria a cor da aura de tais crianças. A aura seria um elemento etéreo, imaterial, que emana e envolve seres ou objetos. Segundo o espiritismo, ela é uma radiografia de todas as vidas do homem desde o momento de sua formação espiritual, e vai evoluindo ao longo das sucessivas reencarnações. A aura conteria dados sobre o passado, sobre a vida presente e até mesmo tendências futuras.
            Vemos então que, além da doutrina da Aura, a doutrina da Reencarnação está presente na sustentação da ideia de serem essas crianças seres que estão numa esfera de evolução mais alta, e que podem, assim, fazer mudanças para a melhoria da vida aqui na terra. Seriam crianças superiores, fascinantes, fantásticas, fabulosas e que teriam percepções de realidades tais como: ver anjos, prever acontecimentos e viver num mundo imaginário em contato com fadas e bruxas.
            Os pensamentos a respeito das crianças índigo envolvem também a aceitação de que essas crianças promoverão transformações como, por exemplo, em relação à família — uma instituição considerada cheia de regras, que precisam ser ignoradas, abrindo espaço para outras opções de convívio, não mais na estrutura “arcaica” da família. Não só em relação à família, mas em diversas esferas da sociedade, essas crianças estariam aqui para nos ajudar na transformação do mundo. O que teríamos que fazer? Precisaríamos aprender com elas, escutando-as e observando-as.
            Segundo, também, o espiritismo, a tarefa das crianças índigo vai ser complementada pelas crianças cristal, uma outra categoria de crianças especiais e fantásticas.  
            Alguns pais, ao aceitarem essa teoria da existência de crianças índigo e cristal, acabam contemplando os próprios filhos como uma espécie de “deuses”, a quem precisam considerar como seus instrutores. Os filhos ensinando os pais; os filhos abençoando os pais. Os filhos sendo os portadores de uma sabedoria superior à qual os pais devem se submeter. Jan Tober e Lee Carroll chegam a afirmar, entre outras coisas, que “as crianças são tudo que elas precisam ser; elas são elas mesmas. Vamos deixá-las sozinhas para que elas possam ser exatamente o que são.”
            Tais ideias deveriam, no mínimo, causar estranheza a pessoas de bom senso. Para quem conhece e crê na Palavra de Deus, são um louco delírio. Porém, é espantoso observar como é grande o número de adeptos, defensores e divulgadores dessas ideias.
            Muitas pessoas têm escrito livros sobre o assunto, têm dado palestras, têm criado blogs e têm até escrito novelas sobre o tema. Uma destas é Elizabeth Jhin, que afirmou estar encantada pela questão das crianças índigo e cristal, o que a teria motivado a escrever a novela “Amor Eterno Amor”, veiculada pela Rede Globo de Televisão neste ano de 2012. A trama teceu em seu enredo, sem qualquer comprovação científica mas totalmente ancorada na parapsicologia e no espiritismo, a ideia das crianças índigo, por meio da personagem Clara. Elizabeth Jhin já havia escrito outras duas novelas para a TV Globo: “Eterna Magia” (2007), falando sobre bruxas, e “Escrito nas Estrelas” (2010), falando de um rapaz que era um “espírito desencarnado”. Estas duas novelas bateram recordes de audiência.
            Numa entrevista que foi publicada no jornal O Estado de São Paulo, a autora falou de sua paixão por Ivani Ribeiro, que era espírita praticante e escreveu novelas de sucesso com o alvo de divulgar o espiritismo, como foi o caso da novela “A Viagem”. Em outra entrevista, publicada no Blog TVG.GLOBO, uma das perguntas feitas a Elizabeth Jhin foi:
            O que a motivou a abordar a questão das crianças índigo e cristal? Acredita que o tema vai causar um impacto nos telespectadores?
            A resposta de Elizabeth Jhin foi: A questão das crianças índigo e cristal é bastante controversa e acredito que as pessoas vão se interessar muito pelo tema e tirar suas próprias conclusões. É surpreendente a quantidade de sites do mundo todo, não só de leigos e educadores, mas também de cientistas de grandes universidades, que se dedicam a falar e estudar o assunto; tanto do ponto de vista sociológico, antropológico e social, como do ponto de vista espiritual. Nesse aspecto, as crianças que nasceram a partir dos anos 80, e mais ainda a partir do ano 2000, estão vindo para ajudar a transformar a vida no nosso planeta, em seus aspectos espirituais, sociais, educacionais e familiares. Quem tem criança do terceiro milênio em casa, percebe e se espanta com sua precocidade e maturidade. A criança sempre foi e será “uma ideia de Deus”, que deve ser muito cuidada e amada. Mais do que nunca, as crianças “são verdadeiros presentes para os pais, para o planeta e para o Universo”.
            Outra novela a abordar o tema foi “Mulheres Apaixonadas”, de Manoel Carlos, que a mesma Rede Globo apresentou em 2003 e reprisou em 2008, na qual havia a personagem Salete, uma criança índigo, que tinha percepção da Luz, premonições, paranormalidade avançada e também via anjos.

LIÇÕES QUE PODEMOS TIRAR

            Aquele que crê que a Palavra de Deus é “lâmpada para os pés” e “luz para os caminhos” busca pautar sua vida pelo que Deus diz, e não pela sabedoria humana. Vamos comparar com a Palavra de Deus algumas das ideias, acima expostas, a respeito de crianças índigo.
            Em relação à aura humana, apesar da disponibilidade de detectores de alta sensibilidade para campos eletromagnéticos e radiação eletromagnética, propriedades comumente atribuídas a aura, não existe nenhum estudo que demonstre empiricamente a sua existência. Ninguém, até o momento, conseguiu demonstrar essa habilidade de detectar auras, apesar do enorme número de pessoas que dizem ser capazes de tal feito. Uma das características da aura, de acordo com os seguidores dessa ideia, seria sua luminosidade. Mas a Bíblia diz que o homem ímpio, sem Deus, está no escuro. Em Colossenses 1.13, 14 lemos sobre Deus Pai: “Ele nos libertou do império das trevas e nos transportou para o reino do Filho do seu amor, no qual temos a redenção, a remissão dos pecados.” E em 1 João 1.5-7 está escrito: “... Deus é luz, e não há nele treva nenhuma. Se dissermos que mantemos comunhão com ele, e andarmos nas trevas, mentimos e não praticamos a verdade. Se, porém, andarmos na luz, como ele está na luz, mantemos comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus, seu Filho, nos purifica de todo pecado.”
            Em relação à reencarnação, que talvez seja uma das mais antigas ilusões religiosas, a verdade sobre tal assunto está claramente estabelecida numa preciosa passagem bíblica que afirma: “... aos homens está ordenado morrerem uma só vez, vindo, depois disto, o juízo.” (Hebreus 9.27). A reencarnação visa o aperfeiçoamento ou evolução da pessoa. Mas a Bíblia afirma, em Efésios 2.8 e 9, que o homem será salvo somente pela graça e não por obras. “Pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie.”  
            Se quisermos encontrar um ponto positivo em tudo que foi exposto, este poderia ser a ênfase em colocar a criança no centro das atenções. Vários conselhos são dados aos pais quanto à postura que devem adotar de compreensão e de amor para com os seus filhos, a fim de viverem na expectativa de que seus filhos têm uma missão superior a cumprir. Sim, este seria um ponto positivo, afinal os filhos são “herança do Senhor”. Este foco no valor das crianças é importante, especialmente numa época em que pais, em alguns contextos, estão “terceirizando” a educação de seus filhos; e em outros contextos, estão literalmente “abusando” de seus filhos, que são vítimas de maus tratos, de espancamentos, de toques com as mãos sujas da pedofilia.
            Jesus, em certa ocasião, colocou uma criança no centro das atenções dos seus discípulos, mostrando-lhes a necessidade de aprenderem a lição da humildade. Mostrou também a importância da criança, que deve ser bem recebida, como se recebêssemos o próprio Jesus; que deve ser tratada com respeito e dignidade, sem colocarmos tropeços na sua caminhada; que não deve ser desprezada e que deve ser alvo de cuidados especiais, assim como um cordeiro é alvo do cuidado de um pastor, porque não é da vontade de Deus que nenhum pequenino se perca.
            O que deve ser buscado, portanto, é um equilíbrio entre valorizar a criança, tal como o Senhor a valoriza, ao mesmo tempo em que reconhecemos a imaturidade da criança e a necessidade que ela tem de receber orientação, como lemos em Provérbios 22.6: “Ensina a criança no caminho em que deve andar, e, ainda quando for velho, não se desviará dele.” 
            Além de orientação, a criança necessita de disciplina, porque “a estultícia está ligada ao coração da criança, mas a vara da disciplina a afastará dela” (Provérbios 22.15), e a negligência na correção demonstra exatamente falta de amor à criança, pois “o que retém a vara aborrece a seu filho, mas o que o ama, cedo, o disciplina.” (Provérbios 13:24).
            A criança não é reencarnação de alguém que já tenha vivido no passado. Cada criança é formada e tecida no útero de sua mãe, tendo seu corpo e alma formados, de modo assombrosamente maravilhoso, por Deus. Nenhuma criança vem de alguma estrela distante ou de uma suposta vida passada. Elas vêm diretamente do poder criador de Deus, que as conhece plenamente desde quando eram ainda uma substância informe, enquanto seus membros, veias e ossos iam sendo formados. Leia o Salmo 139, versos 13 a 17.
            Olhar para a criança através da Palavra de Deus nos ajuda a ter os pensamentos corretos a fim de criar, ensinar, disciplinar e guiar as nossas crianças. É especialmente importante reconhecer que cada uma delas nasce com uma natureza pecaminosa, herança que trazem de seus pais (Salmo 51.5). Só uma criança nasceu neste mundo sem natureza pecaminosa – Jesus –, porque ele não foi gerado no ventre de Maria por um homem, mas pelo Espírito Santo de Deus.
            E porque a criança é pecadora, ela necessita ser evangelizada, isso é, ela precisa saber que Jesus é o Filho de Deus que veio a este mundo para nos libertar do pecado, o que de fato ele fez ao morrer na cruz como substituto do pecador que nEle confia. Esta mensagem “é fácil de entender, tão clara como a luz: em meu lugar pra me salvar Jesus morreu na cruz”. É tão singela que “mesmo um menino pode crer”. Jesus disse: “Quem crê tem a vida eterna” (João 6.47). Leve suas crianças o mais cedo possível a crer em Deus, colocando sua fé no Salvador Jesus, para que não sejam, como disse Chesterton, pessoas que venham no futuro a crer em “qualquer coisa”. Levar crianças à salvação em Cristo é que garante que haverá um bom futuro.
            Crianças índigo... um conceito que deveria encher-nos de indignação, como disse o salmista: “De mim se apoderou a indignação, por causa dos pecadores que abandonaram a tua lei.” (Salmo 119.53).
            Nunca é demais repetir que é necessário, com urgência, ganhar para Jesus a geração que vem chegando. Lembremo-nos de que Deus mesmo foi quem ordenou aos pais que ensinassem aos seus filhos sobre o Seu poder e as Suas maravilhas, a fim de que a nova geração pudesse confiar no Senhor sem jamais se esquecer de suas obras e ser obediente à Sua Palavra. Pois, se não fosse assim, corria o risco de vir a se tornar uma geração rebelde e andar de maneira contrária à orientação do Senhor (Salmo 78.4 a 8).

Esse artigo foi publicado na Revista "O Evangelista de Crianças" ano 58 - nº 229 - out-nov-dez-2012

Nenhum comentário:

Postar um comentário