CRIANÇAS ÍNDIGO
por Gilberto Celeti
“Quando
as pessoas não acreditam em Deus, não é que elas não acreditam em nada,
elas
acreditam em qualquer coisa.”
G. K.
Chesterton
No
final do século XX o tema “crianças índigo” veio à tona. Um livro publicado nos
Estados Unidos em maio de 1999, com o título The Indigo Children, escrito por Lee Carroll e Jan Tober, fez com
que este assunto se tornasse bem mais conhecido. As doutrinas do Espiritismo é
que dão sustentação a todo o argumento desses autores. Segundo eles, crianças
índigo são crianças consideradas especiais, reencarnações de espíritos
iluminados que chegam ao mundo com dons extraordinários; são super-sensíveis,
intuitivas e visionárias, as quais resolveram encarnar agora, com uma missão ou
um objetivo específico: mudar completamente o atual sistema de coisas. Há, na
opinião dos autores e de outros esotéricos, uma grande quantidade de crianças
índigo, que estão nascendo em toda parte desde o final do século passado,
chamadas também de crianças fantásticas, crianças das estrelas, mestres, ou a
esperança para o futuro da humanidade.
Índigo
é o nome de uma cor, entre azul e violeta. É também o nome da substância
corante que serve para tingir de azul, ou anil. E ainda o nome da planta que
fornece índigo, ou anileira. O nome índigo foi adotado para designar essas
crianças especiais, tomando como base a doutrina da Aura, presente em várias
religiões e tradições esotéricas. Índigo seria a cor da aura de tais crianças.
A aura seria um elemento etéreo, imaterial, que emana e envolve seres ou
objetos. Segundo o espiritismo, ela é uma radiografia de todas as vidas do
homem desde o momento de sua formação espiritual, e vai evoluindo ao longo das
sucessivas reencarnações. A aura conteria dados sobre o passado, sobre a vida
presente e até mesmo tendências futuras.
Vemos
então que, além da doutrina da Aura, a doutrina da Reencarnação está presente
na sustentação da ideia de serem essas crianças seres que estão numa esfera de
evolução mais alta, e que podem, assim, fazer mudanças para a melhoria da vida
aqui na terra. Seriam crianças superiores, fascinantes, fantásticas, fabulosas
e que teriam percepções de realidades tais como: ver anjos, prever
acontecimentos e viver num mundo imaginário em contato com fadas e bruxas.
Os
pensamentos a respeito das crianças índigo envolvem também a aceitação de que
essas crianças promoverão transformações como, por exemplo, em relação à
família — uma instituição considerada cheia de regras, que precisam ser
ignoradas, abrindo espaço para outras opções de convívio, não mais na estrutura
“arcaica” da família. Não só em relação à família, mas em diversas esferas da
sociedade, essas crianças estariam aqui para nos ajudar na transformação do
mundo. O que teríamos que fazer? Precisaríamos aprender com elas, escutando-as
e observando-as.
Segundo,
também, o espiritismo, a tarefa das crianças índigo vai ser complementada pelas
crianças cristal, uma outra categoria de crianças especiais e fantásticas.
Alguns
pais, ao aceitarem essa teoria da existência de crianças índigo e cristal,
acabam contemplando os próprios filhos como uma espécie de “deuses”, a quem
precisam considerar como seus instrutores. Os filhos ensinando os pais; os
filhos abençoando os pais. Os filhos sendo os portadores de uma sabedoria
superior à qual os pais devem se submeter. Jan Tober e Lee Carroll chegam a
afirmar, entre outras coisas, que “as crianças são tudo que elas precisam ser;
elas são elas mesmas. Vamos deixá-las sozinhas para que elas possam ser
exatamente o que são.”
Tais
ideias deveriam, no mínimo, causar estranheza a pessoas de bom senso. Para quem
conhece e crê na Palavra de Deus, são um louco delírio. Porém, é espantoso
observar como é grande o número de adeptos, defensores e divulgadores dessas ideias.
Muitas
pessoas têm escrito livros sobre o assunto, têm dado palestras, têm criado
blogs e têm até escrito novelas sobre o tema. Uma destas é Elizabeth Jhin, que
afirmou estar encantada pela questão das crianças índigo e cristal, o que a
teria motivado a escrever a novela “Amor Eterno Amor”, veiculada pela Rede
Globo de Televisão neste ano de 2012. A trama teceu em seu enredo, sem qualquer
comprovação científica mas totalmente ancorada na parapsicologia e no
espiritismo, a ideia das crianças índigo, por meio da personagem Clara. Elizabeth
Jhin já havia escrito outras duas novelas para a TV Globo: “Eterna Magia”
(2007), falando sobre bruxas, e “Escrito nas Estrelas” (2010), falando de um
rapaz que era um “espírito desencarnado”. Estas duas novelas bateram recordes
de audiência.
Numa
entrevista que foi publicada no jornal O
Estado de São Paulo, a autora falou de sua paixão por Ivani Ribeiro, que
era espírita praticante e escreveu novelas de sucesso com o alvo de divulgar o
espiritismo, como foi o caso da novela “A Viagem”. Em outra entrevista,
publicada no Blog TVG.GLOBO, uma das perguntas feitas a Elizabeth Jhin foi:
O
que a motivou a abordar a questão das crianças índigo e cristal? Acredita que o
tema vai causar um impacto nos telespectadores?
A
resposta de Elizabeth Jhin foi: A questão das crianças índigo e cristal é
bastante controversa e acredito que as pessoas vão se interessar muito pelo
tema e tirar suas próprias conclusões. É surpreendente a quantidade de sites do
mundo todo, não só de leigos e educadores, mas também de cientistas de grandes
universidades, que se dedicam a falar e estudar o assunto; tanto do ponto de
vista sociológico, antropológico e social, como do ponto de vista espiritual.
Nesse aspecto, as crianças que nasceram a partir dos anos 80, e mais ainda a
partir do ano 2000, estão vindo para ajudar a transformar a vida no nosso
planeta, em seus aspectos espirituais, sociais, educacionais e familiares. Quem
tem criança do terceiro milênio em casa, percebe e se espanta com sua precocidade
e maturidade. A criança sempre foi e será “uma ideia de Deus”, que deve ser
muito cuidada e amada. Mais do que nunca, as crianças “são verdadeiros
presentes para os pais, para o planeta e para o Universo”.
Outra
novela a abordar o tema foi “Mulheres Apaixonadas”, de Manoel Carlos, que a
mesma Rede Globo apresentou em 2003 e reprisou em 2008, na qual havia a
personagem Salete, uma criança índigo, que tinha percepção da Luz, premonições,
paranormalidade avançada e também via anjos.
LIÇÕES QUE PODEMOS TIRAR
Aquele
que crê que a Palavra de Deus é “lâmpada para os pés” e “luz para os caminhos”
busca pautar sua vida pelo que Deus diz, e não pela sabedoria humana. Vamos
comparar com a Palavra de Deus algumas das ideias, acima expostas, a respeito
de crianças índigo.
Em
relação à aura humana, apesar da disponibilidade de detectores de alta
sensibilidade para campos eletromagnéticos e radiação eletromagnética,
propriedades comumente atribuídas a aura, não existe nenhum estudo que
demonstre empiricamente a sua existência. Ninguém, até o momento, conseguiu
demonstrar essa habilidade de detectar auras, apesar do enorme número de
pessoas que dizem ser capazes de tal feito. Uma das características da aura, de
acordo com os seguidores dessa ideia, seria sua luminosidade. Mas a Bíblia diz
que o homem ímpio, sem Deus, está no escuro. Em Colossenses 1.13, 14 lemos
sobre Deus Pai: “Ele nos libertou do império das trevas e nos transportou para
o reino do Filho do seu amor, no qual temos a redenção, a remissão dos pecados.”
E em 1 João 1.5-7 está escrito: “... Deus é luz, e não há nele treva nenhuma.
Se dissermos que mantemos comunhão com ele, e andarmos nas trevas, mentimos e
não praticamos a verdade. Se, porém, andarmos na luz, como ele está na luz,
mantemos comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus, seu Filho, nos
purifica de todo pecado.”
Em
relação à reencarnação, que talvez seja uma das mais antigas ilusões religiosas,
a verdade sobre tal assunto está claramente estabelecida numa preciosa passagem
bíblica que afirma: “... aos homens está ordenado morrerem uma só vez, vindo,
depois disto, o juízo.” (Hebreus 9.27). A reencarnação visa o aperfeiçoamento
ou evolução da pessoa. Mas a Bíblia afirma, em Efésios 2.8 e 9, que o homem
será salvo somente pela graça e não por obras. “Pela graça sois salvos,
mediante a fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus; não de obras, para que
ninguém se glorie.”
Se
quisermos encontrar um ponto positivo em tudo que foi exposto, este poderia ser
a ênfase em colocar a criança no centro das atenções. Vários conselhos são
dados aos pais quanto à postura que devem adotar de compreensão e de amor para
com os seus filhos, a fim de viverem na expectativa de que seus filhos têm uma
missão superior a cumprir. Sim, este seria um ponto positivo, afinal os filhos
são “herança do Senhor”. Este foco no valor das crianças é importante,
especialmente numa época em que pais, em alguns contextos, estão
“terceirizando” a educação de seus filhos; e em outros contextos, estão
literalmente “abusando” de seus filhos, que são vítimas de maus tratos, de
espancamentos, de toques com as mãos sujas da pedofilia.
Jesus,
em certa ocasião, colocou uma criança no centro das atenções dos seus
discípulos, mostrando-lhes a necessidade de aprenderem a lição da humildade.
Mostrou também a importância da criança, que deve ser bem recebida, como se
recebêssemos o próprio Jesus; que deve ser tratada com respeito e dignidade,
sem colocarmos tropeços na sua caminhada; que não deve ser desprezada e que
deve ser alvo de cuidados especiais, assim como um cordeiro é alvo do cuidado
de um pastor, porque não é da vontade de Deus que nenhum pequenino se perca.
O
que deve ser buscado, portanto, é um equilíbrio entre valorizar a criança, tal
como o Senhor a valoriza, ao mesmo tempo em que reconhecemos a imaturidade da
criança e a necessidade que ela tem de receber orientação, como lemos em
Provérbios 22.6: “Ensina a criança no caminho em que deve andar, e, ainda
quando for velho, não se desviará dele.”
Além
de orientação, a criança necessita de disciplina, porque “a estultícia está
ligada ao coração da criança, mas a vara da disciplina a afastará dela”
(Provérbios 22.15), e a negligência na correção demonstra exatamente falta de
amor à criança, pois “o que retém a vara aborrece a seu filho, mas o que o ama,
cedo, o disciplina.” (Provérbios 13:24).
A
criança não é reencarnação de alguém que já tenha vivido no passado. Cada
criança é formada e tecida no útero de sua mãe, tendo seu corpo e alma formados,
de modo assombrosamente maravilhoso, por Deus. Nenhuma criança vem de alguma
estrela distante ou de uma suposta vida passada. Elas vêm diretamente do poder
criador de Deus, que as conhece plenamente desde quando eram ainda uma
substância informe, enquanto seus membros, veias e ossos iam sendo formados.
Leia o Salmo 139, versos 13 a 17.
Olhar
para a criança através da Palavra de Deus nos ajuda a ter os pensamentos
corretos a fim de criar, ensinar, disciplinar e guiar as nossas crianças. É
especialmente importante reconhecer que cada uma delas nasce com uma natureza
pecaminosa, herança que trazem de seus pais (Salmo 51.5). Só uma criança nasceu
neste mundo sem natureza pecaminosa – Jesus –, porque ele não foi gerado no
ventre de Maria por um homem, mas pelo Espírito Santo de Deus.
E
porque a criança é pecadora, ela necessita ser evangelizada, isso é, ela
precisa saber que Jesus é o Filho de Deus que veio a este mundo para nos
libertar do pecado, o que de fato ele fez ao morrer na cruz como substituto do
pecador que nEle confia. Esta mensagem “é fácil de entender, tão clara como a
luz: em meu lugar pra me salvar Jesus morreu na cruz”. É tão singela que “mesmo
um menino pode crer”. Jesus disse: “Quem crê tem a vida eterna” (João 6.47). Leve
suas crianças o mais cedo possível a crer em Deus, colocando sua fé no Salvador
Jesus, para que não sejam, como disse Chesterton, pessoas que venham no futuro
a crer em “qualquer coisa”. Levar crianças à salvação em Cristo é que garante
que haverá um bom futuro.
Crianças
índigo... um conceito que deveria encher-nos de indignação, como disse o
salmista: “De mim se apoderou a indignação, por causa dos pecadores que
abandonaram a tua lei.” (Salmo 119.53).
Nunca
é demais repetir que é necessário, com urgência, ganhar para Jesus a geração
que vem chegando. Lembremo-nos de que Deus mesmo foi quem ordenou aos pais que
ensinassem aos seus filhos sobre o Seu poder e as Suas maravilhas, a fim de que
a nova geração pudesse confiar no Senhor sem jamais se esquecer de suas obras e
ser obediente à Sua Palavra. Pois, se não fosse assim, corria o risco de vir a
se tornar uma geração rebelde e andar de maneira contrária à orientação do
Senhor (Salmo 78.4 a 8).
Esse artigo foi publicado na Revista "O Evangelista de Crianças" ano 58 - nº 229 - out-nov-dez-2012
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